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A comunidade sunita aceita que existem versículos cuja redação foi revogada, mas cujo significado permanece. Você poderia demonstrar a sabedoria por trás disso com argumentos racionais?
Caro irmão,
– Não existe no Alcorão nenhum versículo cuja redação tenha sido revogada, mas cujo significado permaneça válido.
– Existem algumas versões sobre este assunto:
Primeiro:
Segundo a tradição, Aisha disse:
“Sobre o versículo da lapidação e a amamentação”
-escrito em um papel-
Havia um versículo. Esse papel estava embaixo do sofá onde fica minha cama, na minha casa. Lá.
‘O número de amamentações para adultos é de dez’
estava escrito. Quando o Profeta ficou doente, enquanto estávamos ocupados com ele, uma cabra veio e o comeu.”
(Ibn Mace, Nikah, 36)
Com base nessa lenda,
“amamentação por dez vezes com a vara”
Há quem diga que a decisão permanece válida, mas o texto do versículo foi revogado.
(ver Ibn al-Jazari, Nevasihu’l-Kur’an, Medina, 1404/1984, p. 118-119)
– Alguns estudiosos, como Ibn Hazm, afirmaram categoricamente que essa narrativa era inventada.
(ver Ibn al-Jazari, op. cit.; al-Ihkam fi usuli’l-Ahkam, 4/453-454)
– Como Abdurrahman el-Cezerî também afirmou, os versículos do Alcorão, que chegaram a nós por meio de uma transmissão mutawatir/a mais confiável, com o consenso de toda a comunidade, não podem ser comprovados por narrativas ahad/não mutawatir e não podem ser considerados como Alcorão.
(ver Cezerî, el-Fıkhu ala’l-Mezahibi’l-Arbaa, IV/257)
Em segundo lugar:
Abu Yunus, escravo da esposa do Profeta Maomé, Aisha, relata:
“Aisha pediu-me para escrever um Mushaf para ela. E disse:
“Prestem atenção às orações, especialmente à salat-ı vustá, e levantem-se e permaneçam com humildade na presença de Deus.”
(Al-Baqara, 2/238)
Quando chegar ao versículo, avise-me.” Assim que cheguei ao versículo, avisei-o. Ele me disse o versículo:
“Prestem atenção às orações, especialmente à salat-ı vustá e à salat-ı asr (oração da tarde).”
na forma de
“salat al-asr”
e mandou imprimir com essa adição.”
(Mussulmã, Mesacides, 207)
– Com base neste incidente, alguns…
“salat al-asr”
Eles disseram que a redação da frase foi revogada.
(ver também: Muslim, Mesacid, 208)
– Aqui contido
“Salat al-Asr”
a expressão é uma espécie de interpretação do Profeta Maomé (que a paz esteja com ele).
“Salatu’l-Vusta”
é a explicação. De fato, em um relato transmitido por Ali, o Profeta (que a paz seja com ele) também na batalha de Hendek…
“Eles (os incrédulos) nos impediram de realizar a salat-al-wusta, a oração do meio do dia…”
disse. (Mussulmã, Mesacid, 205,206)
– Imam Nawawi também disse que Aisha,
“oração da tarde”
referência contida na narrativa que ele fez escrever com a adição
“e a salat al-asr”
Ele afirmou que a frase “(oração da tarde)” não pode ser um versículo do Alcorão, pois o Alcorão foi transmitido por via de transmissão contínua (mutawatir), e esta frase não é mutawatir. (ver Nevevi, Sharh Muslim, 5/131)
– Portanto, neste caso também não se trata de algo em que a redação tenha sido revogada, mas o significado permaneça.
Terceiro:
É uma questão de feitiçaria:
De acordo com um relato de Ibn Abbas, transmitido por Bukhari e Muslim, o Califa Omar disse:
“Allah enviou Muhammad com a verdade e revelou-lhe o Livro. Uma das coisas que lhe foram reveladas é o versículo da lapidação. Nós lemos este versículo, entendemos e o guardamos na memória. O Profeta lapidou e nós também lapidamos depois dele. Temo que, depois de muito tempo, alguém venha dizer: ‘Não vemos o versículo da lapidação no Livro de Allah’, e assim, negligenciando um dever/uma obrigação revelada por Allah, cairão na perdição. Contudo, a lapidação de todo homem e mulher casados que cometerem adultério está no Livro de Allah. Basta que este ato seja comprovado por testemunhas, pela gravidez ou pela confissão do crime.”
(Buxari, Hudud, 31; Muslim, Hudud, 4)
– Em primeiro lugar, esta narrativa transmitida por Omar foi mencionada por Bukhari de forma condicional. Isso pode indicar uma certa fraqueza.
– Em segundo lugar, (embora não conste em Al-Bukhari e Al-Mussulm), o texto do versículo sobre o linchamento (recim) que consta nas narrativas apresenta variações. Isso enfraquece a probabilidade de que esse texto seja um versículo, mesmo que a cadeia de transmissão seja autêntica. Uma pessoa que conhece árabe, ao examinar esses textos,
-que consta no próprio Alcorão (como tradução)
“Allah é Onisciente e Onipotente”
exceto por expressões como –
Verá que não se parecem em nada com os versículos do Alcorão.
Para o texto da transmissão do hadith, ver Ahmed b. Hanbal, V/132,183; Ibn Mace, Hudud, 9; Hakim, el-Müstedrek, IV/359. (ver Nota)
– As palavras “şeyh-şeyhet” no texto desta narrativa significam homem idoso e mulher idosa. De acordo com o significado dessas palavras, aqueles que passaram dos quarenta anos/ou seja, os idosos, sejam casados ou não, serão castigados com a pena de apedrejamento se cometerem adultério. Aqueles com menos de quarenta anos – por não serem considerados idosos – serão punidos apenas com cem açoites, sejam casados ou não. Isso, no entanto, contradiz completamente muitos hadiths autênticos que afirmam que a pena de apedrejamento se aplica a todos, idosos ou jovens, casados ou não, e as opiniões aceitas pela maioria dos estudiosos islâmicos.
(ver Cezerî, mês, IV/258-259)
– De fato, segundo a tradição, quando Amr b. As e Zayd b. Sabit estavam escrevendo o Alcorão em forma de Mushaf, ocorreu a seguinte conversa entre eles:
Zayd disse: “Eu ouvi o Profeta dizer algo assim.”
Amr b. As respondeu: “Como pode ser assim? Não estás a ver/não é isso que sempre soubemos, aprendemos; que se ele for solteiro…
-mesmo que seja idoso-
Ele merece a punição com a vara, e se for casado, merece a lapidação, mesmo que seja jovem.
(ver Ahmed b. Hanbel, V/183; Hakim, IV/360)
– É por todas essas razões que alguns estudiosos, como o renomado jurista al-Jazari, expressaram abertamente suas opiniões, afirmando que “nunca duvidaram da falsidade dessas narrativas”.
(ver Cezerî, lua)
– Deve-se ressaltar também que existem muitos hadiths autênticos que afirmam que a pena para os casados que são considerados culpados de adultério é a lapidação. A opinião da maioria dos estudiosos islâmicos também se concentra nesse ponto.
Nota:
Ao examinar as narrativas relacionadas ao versículo sobre a lapidação, observa-se que o texto que se afirma ser um versículo foi transmitido de diferentes maneiras. Podemos listar esses textos da seguinte forma:
Se o homem e a mulher adultérios forem pegos, apedrejai-os até a morte.
“E se um homem e uma mulher casados cometerem adultério, apedreje-os até a morte.” (1)
Se o homem e a mulher idosos cometerem adultério, apedreje-os até à morte. Essa é a punição de Deus para os idosos. Deus é poderoso e sábio.
“E, como castigo de Deus, apedrejais o homem e a mulher idosos (casados) que cometem adultério. Deus é Poderoso e Sabio.” (2)
Se o homem e a mulher idosos cometerem adultério, apedreje-os até à morte; é uma punição de Deus. E Deus é Conhecedor e Sabio.
“E quanto ao homem e à mulher idosos (casados) que cometem adultério, apedrejai-os como castigo de Deus. Deus é Onipresente e Onisciente.” (3)
Se o homem e a mulher idosos cometerem adultério, apedreje-os até a morte; é uma punição de Deus. E Deus é poderoso e sábio.
“E, quanto ao homem e à mulher idosos (casados) que cometem adultério, apedrejai-os como castigo de Deus. Deus é Poderoso e sábio.” (4)
Se o homem e a mulher idosos cometerem adultério, apedreje-os até à morte; é uma punição de Deus e do seu Mensageiro.
“E, quanto ao homem e à mulher idosos (casados) que cometem adultério, apedrejai-os como castigo de Deus e do Seu Mensageiro” (5)
Se o homem e a mulher idosos cometerem adultério, castigue-os com o castigo que merecem.
“E quanto ao homem e à mulher idosos que praticam adultério, castigai-os com açoites, como castigo pelo prazer que desfrutaram” (6)
Como se pode ver, não existe concordância no texto que se afirma ser o versículo da lapidação. O texto narrado como o versículo da lapidação é narrado semanticamente e, em termos de transmissão, é um hadith singular. Em cada narração, é expresso com palavras diferentes. Portanto, não é possível dizer que ele seja mutawatir verbalmente.
No entanto, para que um texto seja considerado parte do Alcorão, ele precisa ser transmitido de forma ininterrupta (mutaqatir). O Alcorão que temos em mãos é, portanto, transmitido de forma ininterrupta (mutaqatir) em termos de palavras. Um texto que não possui essa característica não pode ser considerado um versículo do Alcorão. Não é possível considerar uma narrativa que carece dessa característica como parte do Alcorão. (7)
Fonte:
1) ad-Darimî, Sunan, Hudud, 16; Imam Malik, Muwatta, Hudud, 10; Ahmad ibn Hanbal, Musnad, V, 183; Ibn al-Jazari, Nawasihu’l-Quran, ed. Muhammad Ashraf Ali al-Milbari, Medina 1404/1984, p. 116; Muhammad Abdulazim az-Zarqani, Manahilu’l-Irfan fi Ulumi’l-Quran, Egito, s.d., II, 215.
2) Ibn al-Jazari, Nevasihu’l-Kur’an, p. 116; Jalaluddin Abdurrahman as-Suyuti, el-Itqan fi Ulumi’l-Kur’an, Cairo, 2006/1427, II, 32.
3) Ahmed b. Hanbel, al-Musnad, V, 132.
4) al-Hakim Muhammad b. Abdullah, al-Mustadrak ala’s-Sahihayn, I-IV, Beirute 1411/1990, IV, 359.
5) al-Bayhaqi, Sunan, VIII, 211; al-Haythami, Majma’ al-Zawaid, Beirute, 1408/1988, VI, 265.
6) al-Bayhaqi, Sunan, VIII, 211; al-Haythami, Majma’ al-Zawaid, VI, 265.
7) Keskin, Yusuf Ziya, Análises de Versículos e Hadices sobre a Pena de Lapidação, Beyan Yayınları, Istambul 2001, p. 108.
Ver “O Problema da Abrogação no Contexto da Redação do Alcorão” – Assistente Prof. Dr. Osman KAYA – Revista da Faculdade de Teologia da Universidade de Harran, Ano: 19, Número 31, Janeiro-Junho de 2014.
Com saudações e bênçãos…
O Islamismo em Perguntas e Respostas